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domingo, 11 de julho de 2010

Vi-Te, Senhor


Eu não pude ver-Te, meu Senhor,
Nos bem-aventurados do mundo,
Como aquele homem humilde e crente do conto de Tolstoi.
Nunca pude enxergar
As Tuas mãos suaves e misericordiosas,
Onde gemiam as dores e as misérias da Terra!

E a verdade, Senhor,
É que Te achavas, como ainda Te encontras,
Nos caminhos mais rudes e espinhosos,
Consolando os aflitos e os desesperados. . .

Estás no templo de todas as religiões,
Onde busquem Teus carinhos
As almas sofredoras,
Confundindo os que lançam o veneno do ódio em Teu nome,
Trazendo a visão doce do Céu
Para o olhar angustioso de todas as esperanças. . .

Estás na direção dos homens,
Em todos os caminhos de suas atividades terrestres,
Sem que eles se apercebam
De Tua palavra silenciosa e renovadora,
De Tua assistência invisível e poderosa,
Cheia de piedade para com as suas fraquezas.

Entretanto,
Eu era também cego no meio dos vermes vibráteis que são os homens,
E não Te encontrava pelos caminhos ásperos. . .
Mocidade, alegria, sonho e amor,
Inquietação ambiciosa de vencer,
E minha vida rolava no declive de todas as ânsias. . .
Chamaste-me, porém,
Com a mansidão de Tua misericórdia infinita.

Não disseste o meu nome para não me ofender;
Chamaste-me sem exclamações lamentosas,
Com o verbo silencioso do Teu amor,
E antes que a morte coroasse a Tua magnanimida­de para comigo,
Vi que chegavas devagarzinho,
Iluminando o santuário do meu pensamento
Com a Tua luz de todos os séculos!

Falaste-me com a Tua linguagem do Sermão da Montanha,
Multiplicaste o pão das minhas alegrias
E abriste-me o Céu, que a Terra fechara dentro de minha alma.. .
E entendi-Te, Senhor,
Nas Tuas maravilhas de beleza
Quando Te vi na paz da Natureza,
Curando-me com a Dor.

Rodrigues de Abreu

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